segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O regresso do escritor

   Se não fosse pelo registro que o blog mantém, eu não saberia quando foi a última vez que estive aqui, escrevendo e publicando meus escritos. Faz tempo, muito tempo mesmo, mas, como é bom estar de volta ao lugar que criei, pretendo me manter estável por um tempo, para pode escrever o máximo que eu conseguir, retirando da cabeça alguns contos que trago há anos. 
   Neste momento, quero apresentar a história de uma garotinha de olhos claros, impossível não se encantar com ela, mesmo com sua história trágica.
    Mantendo o formato, novos capítulos todas as Segundas, Quartas e Sextas às 18h. 

    Boa leitura.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

[Parte 15] Passado Londrino - Encontro ao Vento (Final)

  Oliver não queria mais contestar, queria apenas ouvir. De alguma forma, aquilo entrou em sua cabeça e o deixou sem ações. O sr. Simons não deu tempo para que ele pensasse, continuando a falar.


"Seu pai havia colocado em cima da mesa uma apólice. Era a mesma apólice que ele havia feito quando o Frederic deixou a empresa. Não pude acreditar na ideia que ele tinha em mente, e não quis aceitar que ele fizesse aquilo. Mas ele estava disposto ao sacrífico, desde que tudo voltasse ao normal, que tudo que ele mais amava ficasse protegido, sua mãe, você e a empresa.
  Ele sabia que não teria outra solução tão rápida, era necessário que aquilo fosse feito, e não havia tempo. Ele me contou o plano, mas não pude aceitar.
  Leonard sabia que eu iria recusar, mesmo assim ele continuou insistindo. Eu sabia que era a forma dele de salvar tudo, inclusive a mim, então, por egoísmo, aceitei fazer o que ele queria.
  Seu pai já havia planejado como tudo ocorreria. Seria na noite seguinte. Ele comumente ficava na empresa algumas horas depois do fim do expediente, faria da mesma forma. Leonard queria ficar com Liz e com você, Oliver. Então, somente naquela noite ele voltou mais cedo para casa." - O sr. Simons fez um pausa.


  Oliver lembrou-se da noite anterior à morte de seu pai. Uma das poucas vezes que o sr. Weitch havia chegado cedo em casa. Havia cumprimentado a sra. Weitch, e dado um abraço em Oliver. Aquele abraço, Oliver jamais pode esquecer. Ele não pode acreditar quando soube no dia seguinte que seu pai havia falecido. Ele sentiu os olhos encherem de lágrimas.


- Não posso demonstrar fraqueza. Serei forte! - Oliver gritava para si.


  Após aquele silêncio, o soprar gélido de ar, o sr. Simons continuou a narrar a história.


"No dia seguinte, ao fim da tarde, fui até a sala de Leonard, queria conversar uma última vez, tentar tirar aquela ideia da cabeça dele. Mas não consegui, ele apenas se certificou se tudo aconteceria como esperado. Ele me mostrou onde estava a apólice e confirmou o local. Ele ficaria até tarde na empresa, e então iria para casa, tomando desta vez um velho beco como caminho. O local era deserto, ninguém iria descobrir a verdade, mas iriam acreditar na história, pois o lugar era de certa forma perigoso.
  Eu deveria ir com ele, mas precisei ir em casa levar o remédio para o resfriado de Ruby. No caminho, enquanto ia ao encontro de Leonard, passei em frente à sua casa, e ti vi Oliver, pela janela, enquanto brincava. Não suportei. E ao encontrar Leonard, disse que não faria. Você e sua mãe precisavam dele. Ele não me ouviu.
  Eu continuei argumentando com ele, mas nada era aceito. Ele não iria desistir da ideia, não iria desistir da maneira mais fácil e dolorosa de salvar tudo. Do bolso do casaco ele tirou um revolver envolto em um lenço branco. Esticando a mão em minha direção, disse: "A hora chegou, por favor, faça!". Não pude pegar. - Lágrimas escorriam dos olhos de Vincent. Lágrimas iguais as daquela noite.
  Seu pai bradou mais forte, disse que não tinha outra forma, e lágrimas também caíam de seus olhos. Esticou novamente a mão para mim. E mais uma vez, recusei. Então, ele decidiu que faria da própria forma.
  Me olhando nos olhos, apenas disse para seguir com o plano. Não acreditei quando o vi fazendo aquele gesto. E rapidamente, ele apontou para si a arma e disparou." - Vincent se calou.


  Aquelas últimas palavras entraram como um turbilhão nos ouvidos de Oliver, arrastando tudo que tinha pelo caminho. Ruby sentiu quando a mão que sustentava sua cintura afrouxou. O braço começava a soltar seu corpo. Ela sabia o que acontecia em sua volta. 
  Tudo que Oliver sentia agora era o triste pesar da solidão que abatia sobre seu peito. A verdade não machucava tanto quanto sua atitude contra Ruby, a pessoa a quem tanto ele amou.
  E com um último suspiro, encostando no ouvindo dela, ele falou:


- Desculpe pelos momentos que te fiz sofrer. Ainda assim, te amo.


  Ele sabia que era aquele o destino final. Recuou alguns passos deixando o corpo de Ruby totalmente livre. Oliver não tinha mais o chão sobre seus pés. O ar passava rápido por seus ouvidos, fazendo um barulho perturbador. As últimas lágrimas escorriam sobre seu rosto. O último abraço do pai, um último beija da mãe, o último contato com Ruby. Essas foram as últimas lembranças de Oliver, antes que o brilho de seus olhos se apagassem no chão frio e úmido daquela cidade brilhante.


"Nada fora movido sem ter uma consequência.
Tudo estava interligado."

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

[Parte 14] Passado Londrino - Segredos Revelados

  Ruby não sentia vontade nem forças para lutar. Ela ainda juntava em sua mente todos os acontecimentos daquele dia. Tudo parecia ter acontecido de forma tão explosiva. Ela via em sua mente o passeio tão feliz e romântico que tivera com Oliver. A tarde no parque havia sido mágica, porém, tudo aquilo tinha sido uma grande mentira, ela fora usada por vingança.

- Oliver, o que você pretende com isso? Você vai me matar?
- Minha linda e doce Ruby. Sinto por ter envolvido você nisso tudo, mas você é o único meio que fará seu pai confessar o crime que cometeu.
- Ele é inocente! Ele jamais mataria alguém. - Ruby continuava a chorar.
- Nisso você está errada. Ele matou o meu pai! Matou para ficar com a empresa, ter dinheiro! Um egoísta! - Gritou Oliver.
- Egoísta?! Você está cego, descontrolado! Você está fazendo uma grande besteira! Será preso, por nada! Lamento ter conhecido você!
- Sinto muito, mas agora é tarde. E seu pai tem que pagar pelo que fez. E saiba que não me arrependo de te conhecer, apenas de ser filha dela.

  Aquilo havia entristecido Oliver. Ele sabia que estava fazendo uma coisa horrível, estava magoando Ruby, a pessoa que ele mais amava. Entretanto, como ele havia falado, "Agora é tarde!", não tinha mais volta. Mesmo com o coração apertado, ele faria o que fosse necessário para obter a confissão do sr. Simons.
  A noite ia se arrastando devagar. Em algum lugar perto da Torre, o sr. Simons dirigia seu carro em alta velocidade, ele queria chegar logo na Torre e acabar com tudo, queria salvar sua filha, salvá-la de um maluco. Ele sabia que o momento da verdade havia chegado. Não poderia mais mentir, não nessas condições.
  Tudo que Oliver queria saber, as respostas que buscava, todas as conclusões feitas, os argumentos arranjados, os documentos roubados, tudo seria esclarecido. Por mais que doesse pensar e ter que relembrar, e mais doloroso contar tudo aquilo para Oliver, na frente de Ruby, ele teria que fazer. Mais algumas ruas à frente, alguns minutos, e logo ele chegaria à Torre.
 E não demorou. Logo o sr. Simons se deparou com a entrada da Torre. Estacionou seu carro em algum lugar e andando o mais rápido que suas pernas aguentavam, entrou na torre, ligando em seguida para Oliver.


- Onde vocês estão? Cadê minha filha? - Perguntou o sr. Simons aflito.
- Ela está comigo no alto da torre. Suba e entre na única porta que estiver aberta. - Oliver desligou em seguindo.


  Logo o sr. Simons começou a subir a escada de pedra de calcário. Enquanto isso, Oliver ainda agarrando Ruby pela cintura, foi até a porta, destrancou e abriu. A subida era difícil para sua idade, mas o sr. Simons conseguiu, e assim que chegou ao topo, viu uma porta aberta. Ele caminhou até lá.
  Em meio a pouca luz que havia no lugar, o sr. Simons viu as silhuetas de Ruby e Oliver agarrado à ela. A visão era ainda mais assustadora quando ele notou atrás do casal a porta que estava aberta, vendo dali o céu de Londres.


- Oliver, por favor, solte-a. Ela não lhe fez nada. - Pediu o sr. Simons.
- Acalme-se, não irei fazer nada. Não ainda. - E Oliver soltou uma leve gargalhada. - E não se aproxime, ou então irei andar mais um pouco para trás. E Ruby virá comigo.
- Não! Não farei isso. Diga o que você quer! - Falou o sr. Simons.
- Simples! Quero a verdade! Quero sua confissão! Confesse que matou meu pai! - Esbravejou Oliver.
- Eu não matei Leonard! - Gritou o sr. Simons. - Não o matei! Mas afinal, isto não é o que você quer ouvir. Então, acalme-se, que eu irei lhe contar toda a história.
- Não me venha com suas mentiras! Quero apenas que confesse! Não tente me enganar! - Retrucou Oliver.
- Não matei ele, mas se lhe satisfaz, eu poderia sim ter feito isso, aliás, eu deveria! Seu pai foi um idiota, mas salvou todos nós. Isto é a verdade.
- Você está tentando me confundir! Você o matou! Isto é o que me importa! - Gritava Oliver.
- Não o matei, e irei contar o que aconteceu! - O sr. Simons agora tinha uma autoridade na voz, que Oliver não ousou contrariar.
- Conte sua história, mas seja sincero, pois em caso falso, será tarde para Ruby. - Informou Oliver.
- Não irei mentir, você mesmo leu documentos que irão confirmar tudo que irei falar. - Mesmo temendo uma atitude brusca de Oliver, o sr. Simons concordou, e começou a falar.


"Após a saída do Frederic, seu pai era o maior acionista e com isso foi a pessoa que mais sofreu quando começaram as crises na empresa. Mas ninguém imaginaria que tudo era culpa de Leonard. Sim, culpa dele, pois o caixa da empresa não rendia, não dava lucro, devia e não pagava. Tudo porque ele estava fazendo retiradas absurdas."
  
  Oliver fez menção em interromper, mas o sr. Simons balançou a cabeça e prosseguiu.


"Eu entendo, isto parece um absurdo ainda maior. Imaginar que um dos fundadores, naquele momento o maior acionista, poderia fazer algo que levaria a empresa à falência, era uma coisa inacreditável. Mas você pode ver nos documentos que roubou as notas que seu pai fez, não viu? (Oliver confirmou com um aceno).
  Quando eu descobri, fui falar com ele, queria explicações. No começo, Leonard não quis falar, fugia sempre do assunto, dizia que a crise era normal em toda empresa e que ele daria um jeito, mas algum tempo depois, a crise era grave demais, ele não conseguia mais controlar, as retiradas também não poderiam mais ser feitas. Então, ele veio até mim com a proposta mais ofensiva. Ele queria comprar minha parte. Não acreditei naquilo. A empresa falindo, e mesmo assim, ele queria minha parte. Quis saber o porquê, e ele me confessou que iria vender a empresa. Eu jamais aceitaria aquilo, mesmo que isto custasse a própria empresa. E ele sabia disso, mas achou que era única saída. Até que um dia, não suportei mais, e fui falar com ele, dizer que o culpado daquilo tudo era ele. E para minha surpresa, o encontrei chorando, agarrado com uma foto da esposa. Nesse momento, ele conseguiu coragem, me contando o motivo que o levou a fazer tudo aquilo."

  Os olhos do sr. Simons estavam cheios de lágrimas, era notável sua emoção. Mas Oliver não aliviou.

- Continue. Sua "história" é muito interessante. Meu pai, um ladrão, roubando a própria empresa, isso não lhe dava o direito de matá-lo. - Falou Oliver.
- Verdade, isto não me dava o direito de matá-lo. Por isso não o matei. - O sr. Simons retrucou, prosseguindo com a história.

"Leonard me contou que Liz continuava doente, cada vez seu caso estava pior, até que ele reencontrou uma amiga, seu nome era Alicia Beemont. Ela era médica, e falou ao seu pai que poderia ajudar no caso de Liz. Porém, ela teria que fazer pesquisas, e isto custaria caro. Ele aceitou. Este fora o motivo que o levou a fazer retiradas absurdas da empresa. O amor dele por sua mãe."

  Oliver recordava dos documentos, o nome de Alicia em notas, valores altos em seu nome. O sr. Simons não teria tido tempo para pensar naquela história. Então, seria mesmo verdade?, O sr. Simons continuou.

"Eu senti a mesma dor que seu pai sentia, perder a empresa ou a esposa. Mas no fim, ele teria que perder os dois. Junto com toda a história, ele me veio com a única saída que ele tinha. Seu pai teria que morrer." 
  A primeira lágrima escorreu dos olhos do sr. Simons.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

[Parte 13] Passado Londrino - A Dama e A Torre

  Já era noite quando o sr. Simons escutou seu celular tocar. Ele estava em seu carro, voltando para casa, depois de um dia longo e turbulento. Ele ainda lembrava-se da acusação de Oliver. Enfim, o dia havia terminado. Pegando o celular, ele atendeu. Em segundos ele emudeceu.
  Sua filha Ruby era quem ligava, porém ela estava chorando, desesperada.

- Ruby, o que está acontecendo? - Perguntou em desespero o sr. Simons.
- Pai, estou com o Oliver. Ele disse que irá se vingar. Pai por favor, me ajuda! - Ela chorava e soluçava.
- Onde você está?! Ruby!
- Olá Vincent! - Quem falava agora era Oliver.
- O que você fez? O que você quer com ela?! Deixe-a livre! - Ordenou o sr. Simons.
- Pode até ser que isso aconteça. Venha nos encontrar, ouça o sino. Estamos na torre. E venha sozinho, se quiser que tudo acabe bem. - Oliver falou, desligando o celular em seguida.

  O sr. Simons sabia para onde deveria ir. A Torre do Big Ben. Era o lugar favorito de Ruby. Desde pequena, sempre que ela passava por ali, seus olhos brilhavam. Ele temia que Oliver fizesse algum mal para ela. Mas como ele havia encontrado Ruby? E como ele sabia que ela era sua filha?
  Pegando o primeiro retorno, mudando assim de percurso, o sr. Simons dirigia-se com pressa para a torre.

  Cinco Horas Antes

  Cruzando o hall de entrada da empresa, Oliver avistou Ruby. Logo ele caminhou até ela.

- Ruby! Que bom te encontrar! - Ele exibiu um enorme sorriso para ela.
- Oi Oliver! Não esperava te encontrar aqui. - Ela falou surpresa.
- Eu sei, também não esperava te encontrar. Que tal irmos almoçar juntos? 
- Pode ser, mas vou falar com meu pai.
- Ah! Depois você fala, assim posso pagar o café que fiquei te devendo. Por favor?
- Está bem Oliver. Vamos, depois eu falo com ele. - Ela sorriu, cedendo sua vontade.

  Ter encontrado Ruby ali tinha sido a melhor coisa para Oliver. Ele agora tinha algo, ou melhor, alguém, que poderia ajudá-lo a obter a confissão do sr. Simons, mesmo que fosse involuntariamente.
  Ele precisava ganhar tempo com ela, pensar no que poderia fazer. E como atrair o sr. Simons. Ele passou o almoço conversando com Ruby. Falou sobre os assuntos mais diversos, sempre tentando entrar no passado da família.
  Ela era filha única, sempre muito apegada ao pai. Ela seria o ponto fraco dele. E o sr. Simons faria qualquer coisa para protegê-la.
  Oliver conseguiu convencê-la a passar toda a tarde com ele, caminharam por lojas, livrarias, ruas e parques. Aproveitaram o sol de outono sentados em um banco em frente à um lago. E ao anoitecer, Oliver quis fazer um último passei, porém que fosse especial para Ruby. Queria ir ao lugar favorito dela, onde ela gostava de ir quando estava com o pai. Ela disse para ele que adorava a Torre do Big Ben, e foi para lá que eles foram. Ela mal sabia que estava traçando um terrível destino, no lugar onde ela mais gostava de estar.
  Eles conseguiram entrar na torre, a sorte parecia a favor dele. E subiram até o topo. A vista era perfeita, e o tempo passou, deixando-os às sós. Era o momento perfeito para Oliver. Ele caminhou em direção da porta e trancou-a. E sem mais esperar, ele falou para ela: "Seu pai matou o meu. E agora irei me vingar. Ligue para ele".
  Ruby ficou imaginando se aquilo seria uma brincadeira. Seria de péssimo gosto, mas seria melhor que fosse brincadeira.
  
- Oliver, não tem graça. Abra a porta. Quero ir embora agora.
- Não é brincadeira. Ligue para ele, agora! - Ele falou ferozmente.
- Abra a porta! Não acho graça nisso! Irei gritar! - O desespero começava a tomar conta dela.
- Pode gritar, ninguém irá te ouvir. Estamos sós, em uma torre. Você não tem saída! Ligue!

  Começando a chorar ela pegou o celular e ligou para o pai. Minutos depois, Oliver tomava o celular das mãos dela, e a apertava pela cintura. Ruby agora estava presa. Não haveria saída. Oliver sabia que não poderia mais desistir. O fim de tudo estava cada vez mais próximo.